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Alunos de Direito da UM contestam elevadas taxas de reprovação
As elevadas taxas de reprovação, a tardia disponibilização dos sumários e programas das disciplinas e o incumprimento dos prazos para a afixação das notas por parte de alguns professores são os principais motivos de uma onda de descontentamento que se gerou entre os alunos do curso de Direito da Universidade do Minho
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Alunos de Direito da UM revoltados com elevadas taxas de reprovação
As elevadas taxas de reprovação, a tardia disponibilização dos sumários e programas das disciplinas e o incumprimento dos prazos para a afixação das notas por parte de alguns professores são os principais motivos de uma onda de descontentamento que se gerou entre os alunos do curso de Direito da Universidade do Minho.
A insatisfação extravasou os "corredores" da academia através da blogosfera, onde, nos últimos tempos, se têm avolumado os mais variados comentários. Com a chegada da época de exames, precedida por um acto de agressão física por parte de um aluno ao presidente da Escola de Direito, adensaram-se as preocupações, pelo que a Associação de Estudantes de Direito da Universidade (AEDUM) decidiu convocar, esta semana, uma assembleia geral extraordinária para discutir os problemas e tentar encontrar soluções.
"A reunião não foi para criticar a Escola de Direito, mas para analisar a situação interna e perceber os motivos deste descontentamento", salvaguarda a presidente da AEDUM, Cláudia Castro, confirmando que "há, de facto, pessoas que se sentes prejudicadas por um ou outro regime".
A dirigente associativa diz que a reunião decorreu de forma "muito pacífica e ordeira" e foi muito profícua, na medida em que foram apresentadas propostas concretas para tentar resolver algumas questões.
Cláudia Castro realça que os estudantes têm o direito à indignação e a manifestarem-se contra medidas ou procedimentos que eventualmente os prejudique, mas devem faze-lo em sede própria, com os meios adequados e não através de blogs anónimos, com "carácter destrutivo e ofensivo".
Da assembleia geral - em que participaram delegados de turma de todos os anos, elementos da AEDUM, da ELSA - Uminho e outros estudantes de Direito - saiu um documento com várias reivindicações que vai ser discutido e negociado com a Escola de Direito.
Cláudia Castro adianta que as propostas passam pela disponibilização atempada dos sumários e programas das diferentes cadeiras, para que os alunos, sobretudo os trabalhadores-estudantes, possam estar a par das matérias previstas para os exames e preparar-se com tempo para as provas.
Quanto às taxas de reprovação, a dirigente associativa reconhece que há algumas disciplinas - mesmo excluíndo os ditos "cadeirões" - em que só dez a quinze por cento dos alunos conseguem passar.
Além disso, refere, muitas vezes, as notas só são lançadas com 24 horas de antecedência antes da realização das provas orais, deixando os alunos sem tempo para estudar e sem a possibilidade de saberem em que é que erraram.
Por isso, a AEDUM propõe que haja fixação de critérios de correcção de exames; realização de orais públicas; criação de uma norma interna que fixe um prazo para o professor lançar as notas; disponibilização de uma fotocópia da prova corrigida, nem que seja necessário pagar; e a criação de uma base informática onde as classificações sejam colocadas logo após terem sido lançadas na secretaria, porque há alunos que não têm facilidade de se deslocar diariamente à universidade. Cláudia Castro considera a Escola de Direito da UM "uma escola exigente" e compreende que, num quadro de competição com outras Faculdades de Direito, "queira sempre mais e melhor".
Apesar de concordar que existem fragilidades, a presidente da AEDUM acentua ainda que os alunos de Direito da UM "são dos melhores no acesso à Ordem dos Advogados e estão classificados em primeiro lugar no Centro de Estudos Judiciários".
Não é fácil conciliar exigência e sucesso escolar
diz presidente da Escola de Direito, Luís Gonçalves
O presidente da Escola de Direito da Universidade do Minho reconhece que têm havido algumas dificuldades em conciliar "qualidade, exigência e sucesso escolar". Instado pelo "Diário do Minho" a pronunciar-se sobre as reivindicações dos estudantes, Luís Gonçalves fala de alguma "carga dramática" nesta época de exames e salienta que as decisões não se podem tomar com base em emoções.
"A Escola e a Universidade regem-se por normas que têm de ser cumpridas", diz o catedrático, acrescentando que sempre valorizou o "diálogo construtivo, leal, aberto e sem perder de vista os critérios de rigor e qualidade".
Luís Gonçalves refuta alguns argumentos invocados pelos estudantes, nomeadamente no que diz respeito à disponibilização dos programas, que se encontram na secretaria logo nos primeiros quinze dias após o início das aulas.
O professor universitário lembra que há um calendário escolar que os professores têm de respeitar, embora admita que haja "casos pontuais" em que, "por razões alheias à vontade do docente", não se verifique o estrito cumprimento das datas.
De qualquer forma, sublinha, uma grande parte das propostas dos alunos vai ser satisfeita, já a partir do próximo ano, com a criação de uma plataforma de e-learning, que vai permitir um conhecimento mais interactivo, não só dos programas, como também das classificações nos exames.
Quanto à cedência de uma fotocópia da prova corrigida, o responsável pela Escola de Direito diz que o procedimento está previsto no novo Regulamento sobre Inscrições, Avaliação e Passagem de Ano, aprovado no dia 4 de Julho, em situações de recurso da classificação.
No que toca ao insucesso escolar, o catedrático nota que, regra geral, os alunos mais assíduos são os que conseguem melhores resultados e que o curso tem um elevado número de alunos que não pode frequentar as aulas. E é neste aspecto que a prevista plataforma de e-learning poderá ajudar bastante.
Luís Gonçalves sustenta ainda que tem havido a preocupação de introduzir métodos de avaliação inovadores, que requerem um papel mais activo não só por parte do professor, como também do aluno. Além disso, a Escola tem tomado algumas medidas para melhorar o desempenho/avaliação em algumas unidades curriculares.
A credibilidade do curso é uma prioridade para o presidente da Escola de Direito, que se congratula com o facto de já haver "dez gerações de licenciados com prestações muito apreciadas" no mercado de trabalho, e, por isso, está disposto a analisar quaisquer propostas que representem um aperfeiçoamento dos métodos de aquisição de competências, desde que estas não descurem o rigor seguido até agora.
Ao mesmo tempo, aproveito para salientar que deve ter havido um engano da parte do jornalista que entrevistou Cláudia Castro, pois o único blog anónimo de que tenho conhecimento é este e, parece-me particularmente claro que o seu conteúdo não é "destrutivo", muito menos "ofensivo". Parece-me que deve ter havido um engano e o jornalista confundiu-se com alguns comments colocados no blog "Casino da Elsa".
Desde o momento em que tomei a iniciativa de criar o blog, deixei bem claro que o seu objectivo era proporcionar um espaço de discussão sem censuras, onde os interessados podem expor as suas opiniões de forma civilizada e educada, facto que penso que tem sido respeitado pelos comentadores deste blog.
Talvez um dia, este blog deixe de ser anónimo. :)